quinta-feira, 22 de setembro de 2011

C.R.A.Z.Y - Loucos de Amor


C.R.A.Z.Y apresenta a família Beaulieu, que vive na Quebec dos anos 60 e é composta de sete membros. O pai, Gervais, tenta ser um excelente exemplar de macho alfa – machista e imperativo –, e até que desempenha muito bem o papel, mas o grande coração que tem o faz amolecer vez ou outra. A mãe, Laurianne, é o tipo clássico do imaginário de todos: amável, cristã fervorosa (ok, isso talvez não seja do imaginário de todos) e se preocupa mais com os filhos do que consigo mesma. O casal tem cinco filhos; todos homens.


Christian, o primogênito, é um leitor compulsivo, do tipo que lê caixa de cereal e rótulo de ketchup, se é isso que está mais próximo dele. Raymond, o segundo filho, é um bad boy junkie que só não leva bronca do pai por orgulhá-lo saindo com todas as garotas da cidade. O irmão do meio e esportista da família é Antoine, famoso por suas poderosas e indecentes flatulências.


E, finalmente, chegamos ao protagonista do filme: Zachary. Para a emoção de sua mãe, Zac nasceu em pleno Natal. Para o seu próprio tédio, Zac frequenta a Missa do Galo todo ano. Para a ira de seu pai, o pequeno Zac tem estranhas tendências maternais – diverte-se empurrando um carrinho de brinquedo e, mais tarde, o carrinho de bebê do seu irmão caçula, Yvan.


Mais ovelha negra do que já pensava ser, na adolescência, Zac descobre sua homossexualidade e se esforça para negá-la, ao menos conscientemente. Ele recusa sua sexualidade, não aceita a si mesmo e chega a arriscar sua vida em testes de fé com o objetivo de “se curar” (mesmo dizendo ter se tornado ateu). Mas C.R.A.Z.Y é um filme que explora o significado de família; aceitação da homossexualidade é apenas o drama central escolhido pelo roteiro para tratar das relações familiares. A preocupação intensa de Laurianne a faz acordar de madrugada com a certeza de que seu filho está em apuros. A preocupação pela masculinidade dos filhos e honra da família tornam Gervais um homem rígido e autoritário.


Raymond é o membro mais problemático da família: é dominado pelas drogas, pelo sexo e não tem respeito por ninguém. Os outros irmãos têm pouco destaque, mas são essenciais para o equilíbrio dos Beaulieu. Sem Christian, Antoine e Yvan para apartar a briga entre Zac e Raymond, afagar a mãe aflita e encher o pai de orgulho, os Beaulieu seriam tristes e viveriam numa guerra constante. Todos têm uma razão para estar ali.


As atuações são deliciosas de assistir, especialmente de Marc-André Grondin, o intérprete de Zac. Ele está à vontade e em plena eficiência das cenas mais engraçadas até as mais dramáticas, só de cueca e em todas as mudanças de visual e estilo que o personagem passa durante as décadas de 70 e 80. Michel Côté (Gervais) é rígido no ponto certo, nada forçado, e sempre diverte com as imitações de Charles Aznavour (o Roberto Carlos da França). Danielle Proulx (Laurianne) é a mãe que todos queriam ter. Por fim, Pierre-Luc Brillant merece menção por ser um Raymond detestável e charmoso, cada qual em seu tempo. Detestável sempre, na verdade.


A trilha sonora é formada por músicas da época, como o hit country de Patsy Cline, responsável pelo título do filme, Crazy. As cenas ao som de Sympathy for the Devil, dos Rolling Stones, e Space Oddity, do David Bowie, são marcantes.


Jean Marc-Vallée faz o filme fluir num ritmo envolvente, dando contexto e tempo para nos apegarmos aos personagens da história, graças ao seu roteiro bem construído, com bons timings para as passagens de tempo, e à sua direção segura, que executa habilidosamente esse roteiro detalhado e emocional. Sua única falha visível é a última cena, que deveria ser maior e mais rica de conteúdo.


Numa linha tênue de leveza e intensidade, o filme é hilário, sensível e pode (e deve) ser assistido por pais, mães, avôs, avós e adolescentes, juntos. Em família, garanto que todos vão parar e olhar em volta, pensando e avaliando seus relacionamentos. Não há como ser indiferente à C.R.A.Z.Y.

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C.R.A.Z.Y, 2005  

Gênero: Drama
Diretor: Jean-Marc Vallée
País: Canadá
Duração: 127 min 

Nota: 10


5 comentários:

  1. Deu vontade de assistir! Gostei muito do post, Onã, nem parece que foi você que fez. :D heeehe

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  2. Eu me lembro que você falou desse filme no MSN, disse que ia ver com a sua família (o que eles acharam? eu adoro que você vê filmes com seus pais Onã, meus pais usam filme de sonífero /facepalm). Gostei que as iniciais deles formam CRAZY. (As coisas que eu reparo primeiro são sempre as mais inúteis)

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  3. Nota 10? Mesmo? Nao julgando o filme sem ver mas...exagero

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  4. Nota 10 de verdade. Assisti por causa do post.

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