quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Transformers: O Lado Oculto da Lua


O absurdo visual que permeia os filmes de Michael Bay (Bad Boys, A Ilha, Pearl Harbor) está mais forte do que nunca em Transformers 3. Tomadas aéreas, prédios desmoronando, explosões, robôs gigantes, faíscas, metal voando, tiros, tomadas aéreas, robôs gigantes atacando, tomadas aéreas, mísseis, explosões, faíscas, lâminas, tomadas aéreas, robôs gigantes se destruindo, explosões, vidros se estilhaçando, faíscas, tomadas aéreas, tiros, mísseis, explosões – elevado a terceira potência.

Fãs da franquia já sabem que é isso o que encontrarão e é isso o que querem ver. Porém, toda essa ação demora a aparecer, e até lá o espectador tem de aguentar cenas pseudo-engraçadas com o protagonista Sam Witwicky e outros personagens pouco relevantes na batalha que pode resultar no fim da humanidade. 

Enquanto vemos Sam vivendo com sua nova namorada, sendo alvo de deboche de seus pais por não ter dinheiro ou emprego e tendo seu orgulho artificialmente abalado pelo chefe de sua namorada, acompanhamos o início da trama dos robôs extraterrestres: a descoberta de que uma nave de Cybertron caiu no lado oculto da lua na década de 60, contendo o líder predecessor dos Autobots, Sentinel Prime, desacordado, e uma arma tão poderosa que poderia, por si só, decidir a longa guerra entre Autobots e Decepticons.
 

O ponto forte da película são os efeitos visuais, incontestavelmente impressionantes, e a ação exagerada típica de Michael Bay. No entanto, essas “qualidades” (entre aspas, pois o excesso de explosões e faíscas de Bay chega a incomodar) só podem ser vistas na última hora (das longas e desnecessárias duas horas e meia) do filme. 

A história completa dos robôs de Cybertron poderia ser exibida em uma hora, no máximo, mas o terrível roteiro de Ehren Kruger (A Chave Mestra, O Chamado, Os Irmãos Grimm) dá grande espaço ao irritante protagonista Sam Witwicky, interpretado por Shia LaBeouf e sua composição forçada e irreal, em cenas sem nenhuma relevância, sozinho ou com o romance vazio e nada convincente com Carly, vivida por uma modelo da Victoria’s Secret, Rosie Huntington-Whiteley. Sam é o artifício usado por Bay e Kruger para humanizar a produção, fazendo com que o espectador se identifique, mas nada justifica a presença insuportável de LaBeouf neste péssimo personagem por tanto tempo na tela.
 

De bônus, ainda há o excelente ator John Malkovich em mais um papel ruim para incluir em seu extenso currículo de papéis ruins e Ken Jeong, cujo problema é interpretar o mesmo personagem em todos os filmes e séries que participa.

É difícil se apegar aos personagens-título. Afinal, são carros que se transformam em robôs. Suas vozes passam pouca emoção e a ausência de expressões faciais não colabora. Assim, o único argumento para torcermos por eles é o de que são heróis e estão apoiando e protegendo os humanos. Soa pouco e falso para uma franquia tão inverossímil como Transformers

No fim, não há efeito especial e 3D da melhor qualidade que compense um péssimo roteiro, atuações e personagens.

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Transformers: Dark of the Moon, 2011 
Gênero: Ação, Aventura, Ficção Científica 
Diretor: Michael Bay
País: EUA 
Duração: 157 min 

Nota: 2


 

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Os Irmãos Grimm


Esqueça toda a graciosidade que a Disney e os livros infantis mostraram. Em Os Irmãos Grimm, os contos de fadas são assustadores e reais – e nada infantis. Quando criança, vivendo na miséria e com sua irmã gravemente doente, Jacob Grimm vende a vaca da família em troca de feijões supostamente mágicos e é reprimido por seu irmão, Will. Te lembrou algo?

Quinze anos mais tarde, os dois irmãos são famosos por expurgar bruxas e outras lendas populares que frequentemente atacam povoados – exceto que é tudo uma grande montagem: os Grimm usam a lábia de Will e o conhecimento de Jacob sobre fábulas para forjar os ataques e cobram dinheiro dos chefes das vilas para “expulsá-las”.

Logo eles são desmascarados pelo exército francês, dominantes da Europa, na época, que os obrigam a investigar o caso real do misterioso desaparecimento de meninas numa vila alemã. Na aventura, o ceticismo de Will é posto em prova quando árvores se movem, sapos indicam a saída da floresta e as fábulas se tornam reais.
 

Não assista a Os Irmãos Grimm se estiver à procura de ação ou aventura, pois o foco é comédia e fantasia. O humor pitoresco – remanescente de Monty Python – de Terry Gilliam (Brazil, Medo e Delírio, Os 12 Macacos) está presente em cada cena, mesmo as mais monstruosas. Quando a pequena Sasha tem seus olhos, nariz e boca roubados por uma criatura lamacenta, as reações do espectador alternam entre espanto e riso.

Conforme a história vai avançando, vemos menções a fábulas velhas conhecidas. Além dos feijões mágicos do início do filme, há uma garota de capa e chapéu vermelhos, um lobo mau, um lenhador, um casal de crianças jogando migalhas de pão na floresta para achar o caminho de volta para casa, uma rainha má, uma bela mulher com longas tranças presa numa torre alta no meio da floresta, entre outros mais sutis que criam uma aura de nostalgia em volta do filme.

Os personagens-título têm caráter duvidoso e ofendem um ao outro frequentemente, mas esbanjam carisma por conseguir fazer o amor incondicional, latente, que há entre eles um sentimento verossímil e sempre presente. Matt Damon e Heath Ledger estão impecáveis.
 

Terry Gilliam é famoso por seu estilo único e imaginativo de dirigir e escrever. Seu estilo é parecido com o de Jean-Pierre Jeunet (de Ladrão de Sonhos e Delicatessen), totalmente inventivo e nonsense, na direção e no texto.

O roteiro de Ehren Kruger, mesmo inventivo, empolga pouco e carece de tensão: em nenhum momento temos a sensação de que há um perigo real ameaçando os protagonistas. A trama também carece de uma resolução criativa, como o resto do filme propunha.

Os Irmãos Grimm transforma os próprios criadores dos contos de fadas em personagens de uma fábula. Mesmo com suas falhas, é sempre um deleite assistir a experiências cinematográficas atípicas e divertidas, como as produções de Terry Gilliam.

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The Brothers Grimm, 2005
Gênero: Aventura, Comédia, Fantasia 
Diretor: Terry Gilliam 
País: EUA/República Checa/Reino Unido 
Duração: 118 min
  
Nota: 7


domingo, 25 de setembro de 2011

Especial: Os futuros Vingadores


Os Vingadores tem estreia marcada para 27 de abril de 2012, mas a ansiedade já está me incomodando. Resolvi fazer um post especial com pequenas resenhas dos filmes individuais desses super-heróis. Já deixo claro que nunca li nenhuma HQ de nenhum dos super-heróis dos filmes resenhados aqui, portanto levem isso em consideração.

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Homem de Ferro (2008)


O mais bem sucedido dos filmes dos futuros Vingadores, Homem de Ferro também é o mais cômico e divertido. Tony Stark é um super-herói atípico: um multimilionário mulherengo, irresponsável e egocêntrico. O amadurecimento de sua personalidade é muito bem feito na tela e Stark realmente se torna um herói aos olhos do espectador; o mais estiloso dos quatro Vingadores, diga-se de passagem. O design da armadura vermelha e dourada é bonito, os efeitos de vôo e movimento são incríveis e as sequências de ação, apesar de poucas, são empolgantes.

Compensando a escassez de ação, estão as excelentes atuações de Robert Downey Jr, o Tony Stark perfeito e insubstituível, Gwyneth Paltrow, como a adorável e fiel Pepper Potts (melhor namorada das quatro dos Vingadores), e Jeff Bridges, o cruel Obadiah Stane, vilão que se torna o Monge de Ferro com o protótipo de armadura criado por Stark.

Nota: 8



O Incrível Hulk (2008) 


O mais recente filme do Incrível Hulk traz um protagonista estranho e sem carisma, tanto como o Bruce Banner do Edward Norton ou como o brutamonte verde de computação gráfica. O começo do filme, com Bruce na América Latina fugindo do General Ross, chega a incomodar com personagens falando português erroneamente e de forma artificial. Outro problema é o mistério desnecessário com a forma do Hulk, que teve uma primeira aparição chata em que só se via vislumbres da criatura em meio à escuridão e destruição e ao som de gritos e urros, como num filme de terror. As piadas com os batimentos cardíacos e as calças de Banner são tão frequentes que se tornam irritantes. 

Os pontos positivos do filme são Betty Ross (Liv Tyler) e Emil Blonsky (Tim Roth). A pouca química que há entre Bruce e Betty, e toda a emoção que há entre os dois, só é transmitida pela boa atuação de Liv Tyler. Enquanto isso, a fascinação pelo poder resultante dos raios gama do vilão Emil Blonsky provém alguns dos melhores momentos do filme.

Talvez com um prólogo maior para dar contexto e apresentar mais eficientemente os personagens e a trama, o Norton como Bruce Banner poderia até nos fazer torcer pelo personagem.

Nota: 4



Homem de Ferro 2 (2010)


Homem de Ferro 2 cumpre o que toda continuação deveria: mantém todas as qualidades e supera as fraquezas do anterior. Seis meses após os acontecimentos do primeiro filme, o mundo todo conhece o Homem de Ferro, ídolo da população norte-americana, e isso atrai inimigos: Justin Hammer, dono de uma empresa rival da Stark Industries, e Ivan Vanko, cujo pai havia trabalhado com Howard Stark, pai de Tony, e não recebeu crédito por colaborar com a criação do reator de arcos usado no traje do Homem de Ferro.

Com dois vilões em cena, a consequência é mais ação. Vanko (Mickey Rourke) usa tecnologia semelhante à do Homem de Ferro e assusta o mundo inteiro. Hammer (Sam Rockwell) se alia à Vanko, financiando a criação de armas ainda mais perigosas contra Stark. A última sequência de ação é longa e de tirar o fôlego.

Pra quem se pergunta por que a mesma nota, o primeiro filme tem um feeling único por dar uma origem bem construída ao herói, além do fator novidade, e mostrar drama superior ao do segundo.

Nota: 8



Thor (2011) 


O mais fantástico e visualmente impressionante dos filmes dos futuros Vingadores, Thor mistura mitologia nórdica e magia com o universo dos super-heróis, uma combinação estranha, mas que funciona muito bem na prática. O protagonista tem história parecida com a de Tony Stark: é arrogante e egocêntrico no início, mas passa por experiências que o ajudam a amadurecer e rever suas atitudes. No caso deste, o amadurecimento vem com a vivência na Terra, como humano, após ser banido de Asgard – Thor se apaixona por Jane Foster (Natalie Portman), cientista que o socorre, e aprende uma lição de humildade imposta por seu pai, Odin, necessária para recuperar seus poderes. Teoricamente é interessante, mas a mudança da personalidade de Thor é brusca e pouco convincente na tela, assim como o amor repentino entre ele e Jane.

As batalhas encantam graças aos caprichados efeitos especiais. Os poderes dos Gigantes do Gelo, Thor girando o estrondoso Mjolnir e invocando relâmpagos, os raios mortais do Destruidor e a estonteante Bifrost enchem os olhos de empolgação, como todo filme de super-herói deveria fazer.

O elenco tem grandes nomes, como Anthony Hopkins, Rene Russo, Stellan Skarsgard e a já citada Natalie Portman. Além do ator Chris Hemsworth, que se entregou ao papel e fez um ótimo trabalho como o Deus do Trovão, e Tom Hiddleston, que está igualmente bem como Loki e divide o melhor drama do filme com o consagrado Anthony Hopkins.

Pessoalmente, é o meu favorito dos cinco filmes. Sempre fui fascinado pelas mitologias grega e nórdica, e os efeitos visuais de Thor, incluindo a arquitetura e cultura de Asgard, são deslumbrantes.

Nota: 8



Capitão América: O Primeiro Vingador (2011) 


Hollywood conseguiu: Capitão América é o mais carismático dos quatro Vingadores do cinema. Steve Rogers (Chris Evans) é o modelo perfeito de um super-herói. Apesar de sofrer bullying por seu corpo magricela e baixa estatura, sempre exibiu bondade e coragem descomunais. E continuou com as mesmas virtudes após se tornar o robusto Super Soldado, Capitão América. Seu romance com a agente Peggy Carter (Hayley Atwell) é o mais delicado de todos os dos quatro super-heróis.

Porém, o resto do filme não faz jus ao seu protagonista. A ação é o ponto mais fraco. Sempre que uma sequência de ação está prestes a empolgar, termina. Faltaram criatividade e impacto nos confrontos e momentos dramáticos. O vilão, Caveira Vermelha (Hugo Weaving), tem a personalidade forte que se espera de um vilão nazista, mas foi mal aproveitado e teve uma derrota decepcionante. Além disso, a trama envolvendo a arma dos deuses ficou extremamente confusa e, provavelmente, só fará sentido ao assistirmos Os Vingadores.

Nota: 6

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Agora é esperar para ver como eles se saem juntos.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

C.R.A.Z.Y - Loucos de Amor


C.R.A.Z.Y apresenta a família Beaulieu, que vive na Quebec dos anos 60 e é composta de sete membros. O pai, Gervais, tenta ser um excelente exemplar de macho alfa – machista e imperativo –, e até que desempenha muito bem o papel, mas o grande coração que tem o faz amolecer vez ou outra. A mãe, Laurianne, é o tipo clássico do imaginário de todos: amável, cristã fervorosa (ok, isso talvez não seja do imaginário de todos) e se preocupa mais com os filhos do que consigo mesma. O casal tem cinco filhos; todos homens.


Christian, o primogênito, é um leitor compulsivo, do tipo que lê caixa de cereal e rótulo de ketchup, se é isso que está mais próximo dele. Raymond, o segundo filho, é um bad boy junkie que só não leva bronca do pai por orgulhá-lo saindo com todas as garotas da cidade. O irmão do meio e esportista da família é Antoine, famoso por suas poderosas e indecentes flatulências.


E, finalmente, chegamos ao protagonista do filme: Zachary. Para a emoção de sua mãe, Zac nasceu em pleno Natal. Para o seu próprio tédio, Zac frequenta a Missa do Galo todo ano. Para a ira de seu pai, o pequeno Zac tem estranhas tendências maternais – diverte-se empurrando um carrinho de brinquedo e, mais tarde, o carrinho de bebê do seu irmão caçula, Yvan.


Mais ovelha negra do que já pensava ser, na adolescência, Zac descobre sua homossexualidade e se esforça para negá-la, ao menos conscientemente. Ele recusa sua sexualidade, não aceita a si mesmo e chega a arriscar sua vida em testes de fé com o objetivo de “se curar” (mesmo dizendo ter se tornado ateu). Mas C.R.A.Z.Y é um filme que explora o significado de família; aceitação da homossexualidade é apenas o drama central escolhido pelo roteiro para tratar das relações familiares. A preocupação intensa de Laurianne a faz acordar de madrugada com a certeza de que seu filho está em apuros. A preocupação pela masculinidade dos filhos e honra da família tornam Gervais um homem rígido e autoritário.


Raymond é o membro mais problemático da família: é dominado pelas drogas, pelo sexo e não tem respeito por ninguém. Os outros irmãos têm pouco destaque, mas são essenciais para o equilíbrio dos Beaulieu. Sem Christian, Antoine e Yvan para apartar a briga entre Zac e Raymond, afagar a mãe aflita e encher o pai de orgulho, os Beaulieu seriam tristes e viveriam numa guerra constante. Todos têm uma razão para estar ali.


As atuações são deliciosas de assistir, especialmente de Marc-André Grondin, o intérprete de Zac. Ele está à vontade e em plena eficiência das cenas mais engraçadas até as mais dramáticas, só de cueca e em todas as mudanças de visual e estilo que o personagem passa durante as décadas de 70 e 80. Michel Côté (Gervais) é rígido no ponto certo, nada forçado, e sempre diverte com as imitações de Charles Aznavour (o Roberto Carlos da França). Danielle Proulx (Laurianne) é a mãe que todos queriam ter. Por fim, Pierre-Luc Brillant merece menção por ser um Raymond detestável e charmoso, cada qual em seu tempo. Detestável sempre, na verdade.


A trilha sonora é formada por músicas da época, como o hit country de Patsy Cline, responsável pelo título do filme, Crazy. As cenas ao som de Sympathy for the Devil, dos Rolling Stones, e Space Oddity, do David Bowie, são marcantes.


Jean Marc-Vallée faz o filme fluir num ritmo envolvente, dando contexto e tempo para nos apegarmos aos personagens da história, graças ao seu roteiro bem construído, com bons timings para as passagens de tempo, e à sua direção segura, que executa habilidosamente esse roteiro detalhado e emocional. Sua única falha visível é a última cena, que deveria ser maior e mais rica de conteúdo.


Numa linha tênue de leveza e intensidade, o filme é hilário, sensível e pode (e deve) ser assistido por pais, mães, avôs, avós e adolescentes, juntos. Em família, garanto que todos vão parar e olhar em volta, pensando e avaliando seus relacionamentos. Não há como ser indiferente à C.R.A.Z.Y.

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C.R.A.Z.Y, 2005  

Gênero: Drama
Diretor: Jean-Marc Vallée
País: Canadá
Duração: 127 min 

Nota: 10


terça-feira, 20 de setembro de 2011

Me falaram pra fazer um post de inauguração do blog

Bem-vindo, estranho.

Se você é realmente um estranho, não deve saber que eu sou estudante de jornalismo. Planejo trabalhar com jornalismo cultural – mais precisamente escrever sobre filmes. Ou não. Sempre mudo de ideia com o tempo, impossível ter certeza dos meus objetivos até o final do curso.

O blog será uma base de treino para a minha escrita e habilidade de escrever textos e críticas sobre filmes. Por isso, espero que me critiquem via comentários, senão não saberei se estou escrevendo ouro ou merda. Talvez bronze, que parece ouro sujo de merda. Se for bronze, as críticas vão me ajudar a limpar a merda que tá sujando o meu ouro. Ok? Ok.

Confiram o meu perfil no Filmow pra conhecer um pouco do meu gosto pra filmes.

  PS: Eu nem gosto de pipoca, mas não podia desperdiçar o trocadilho. Que, aliás, foi ideia da Pat.